sábado, 24 de abril de 2010

Um café, se faz favor.



Sento-me num café e fico uma hora inteira a ver passar na rua as trinta mil pessoas da cidade. Convencidas, vencidas, alegres e tristes, inquietas, calmas, inseguras, deslizam como imagens num écran. Naquele momento, dir-se-ia que cada um concentra em si o destino do mundo. E, afinal, um segundo depois, não fica no seu caminho o mais leve sinal de tanta significação que parecia ter. Representou apenas um papel semelhante ao daqueles protagonistas de tragédias e comédias contadas num jornal que a criada amarrota, mete no fogão e queima.

Miguel Torga
de um blog tuga para este tasco brazuca

Nunca mais



Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.

Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa −
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.


Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Em cada olhar , um sentir



São outras as paisagens quando alguém
as vê pelas janelas do seu próprio coração ou quando
com esse coração
a própria estrada está comprometida.





Luís Miguel Nava
poesia completa (1979-1994)
Rebentação
Dom Quixote publicações 2002