quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ponto na multidão...


Eu não chamo o abandono de solidão
Viver sob a noite estrelada
Atravessar
Ponto na multidão
Quem não se sente só

Sol na pele
Pingos de chuva em cada olhar
Sinais
Passam nas carrruagens que vão pro mar
Vão e não voltam mais
Antes me dão um nó

Quem repara bem na paixão
Não separa um sim de um não
Um não de um talvez
Terá sua vez
A primeira condição
De um amor viver de ilusão
Querer ser feliz
Sugar na raiz
Tudo em você

Quem não sente a brasa dormida do coração pulsar
Diz alguém que não treme frente a visão
Anjo que passa e vai
Imã que nos atrai

Mal secreto não pede esmola nem tem perdão
Viver sob a noite estrelada
Tudo em você
Tudo em você

Beto Guedes

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Conheci rios...


“Conheci rios.

Primevos, primitivos rios, entes passados do mundo, lodosas torrentes de
desumano sangue
nas veias dos homens.

Minha alma escorre funda como a água desses rios.”

José Luandino Vieira o livro dos rios ( poeta angolano)

Para atravessar o deserto



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen