é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
Um comentário:
Um todo será, em parte, um número infinito de partes...
Uma parte nunca será um todo, mas há partes que têm a capacidade de cegar-nos para outros infinitos.
Uma parte de mim é certamente uma parte que todo o mundo possui.
Eu sou, todo eu, uma unica parte que se funde com outras partes... (qual matriosca) traduzimo-nos por linhas travessas sem que na maioria das vezes seja possivel perceber quem somos... pela simples razão de que, a razão, mora quase sempre do lado de fora... que há em nós!
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